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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Luis Fernando Verissimo na Terapia ...


O melhor da Terapia é ficar observando os meus colegas loucos. Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco : o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou.
Durante quarenta anos, passei longe deles . Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando estar louco semanal.
O melhor da terapia é chegar antes, alguns minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera . Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco.
Ninguém olha para ninguém. O silêncio é uma loucura. E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses.
Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo. E a sala de espera de um "consultório médico", como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela ), é um prato cheio para um louco escritor como eu. Senão, vejamos:
Na última quarta-feira, estávamos:
1. Eu
2. Um crioulinho muito bem vestido ,
3. Um senhor de uns cinqüenta anos e
4. Uma velha gorda.
Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles. Não foi difícil, porque eu já partia do princípio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados.
(2) O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá-lo até aquela poltrona de vime . Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o namoro e não conseguiu entrar como sócio do "Harmonia do Samba "? Notei que o tênis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza . O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala . Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça . Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro. Podia ser perigoso. Afastei-me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina.
(3)E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz esse meu personagem. Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra. Faltava um botão na camisa . Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. Homossexual? Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles . Tingido.
(4) Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria, meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos. Será que se masturbaria? Será que era esse o problema dela? Uma velha masturbadora? Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava na quinta dezena em dez minutos . Tensa. Coitada. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse.
Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista.
Conto para ele a minha "viagem" na sala de espera.
Ele ri... Ri muito, o meu psicanalista, e diz:
- O Ditinho é o nosso office-boy.
- O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades.
- E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe.
- "E você, não vai ter alta tão cedo...."

terça-feira, 27 de setembro de 2011

À quem nos tem ofendido....por SGiudice

Sem dúvidas, perdoar é um desafio. Sentimentos como culpa, raiva, hostilidade são acionados quando nos sentimos humilhados, agredidos e, principalmente, quando não entendemos porque fizeram isso com a gente. Com certeza, uma "mistura" de sensações que nos causam dor e sofrimento e colocam à prova nossos limites e capacidade de superação e de compreensão.

Perdoar não é ser apático com os erros alheios ou aceitar de forma passiva tudo o que nos fazem. Muito menos, fugir da realidade, negando os sentimentos ou reprimindo mágoas.
Acredito que o ato de perdoar está ligado a um temor religioso. Crenças e dogmas antecipam-se à nossa íntima razão e discernimento e ofuscam o real significado da palavra perdão.
Perdoar para ser perdoado... bonito, socialmente nobre e divinizado! Será que perdoamos mesmo quando, "vira e mexe", recordamos aquilo que alguém nos fez? Perdoamos quando, "vai e vem", provocamos a pessoa envolvida naquele episódio no estilo: "Você lembra o que fez comigo naquele dia?"

Desprender-se mentalmente pode ser um caminho construtivo para perdoar. Evitar a sobrecarga mental do "eu deveria ter falado isso"... ou revidado daquela maneira... e outras idéias repetitivas e que fazem que cada vez que geramos imagens, sintonizemos os mesmos sentimentos negativos. Uma excessiva exaustão física, mental e emocional.
Dessa maneira não sofremos uma vez pelo episódio, mas sucessivas vezes a cada nova lembrança.

O distanciamento pode nos motivar a perdoar com maior facilidade, porque deixamos de nos alimentar com emoções alheias, das desforras ou até das relações doentias. É desligar-se desses fluidos que nos amarram em crises existencias e que nos tornam dependentes psicológicos desses fatos acontecidos, mas que sobrevivem e se alimentam de nossa memória.

A prece também pode se revelar uma excelente terapia, que nos reabilita a paz e a harmonia perdida. Serenos, podemos entender através da compaixão e do amor incondicional.
A "retirada estratégica" dessa conexão psicológica torturante com os envolvidos pode fazer com que tenhamos habilidade e disposição para perceber o processo que está por trás dos comportamentos agressivos das pessoas.
Enfim, perdoar significa esquecer... e esquecer significa aplacar a dor da nossa alma.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O preço por agradar demais...por SGiudice



Porque ele não me dá valor, depois de tudo o que eu já fiz por ele?
Já ouviu essa frase?

Um tema e tanto para terapia!!!

Uma mulher está só, mas bem com ela mesma. Estuda, trabalha, é independente, decidida e luta por suas metas e objetivos. Diverte-se com os amigos, enfim tem vida própria e luz própria! E é essa luz que acaba atraindo alguém que a vê brilhar!

O encontro mágico acontece! Eles se unem, ou casam-se ou continuam de alguma maneira mantendo uma relação.

Com o tempo, essa mulher começa a cobrir esse homem de agrados, o que é perfeitamente normal. Quando amamos, queremos agradar o homem amado. Mas, até que ponto você está se doando, e até que ponto está recebendo? Sim, porque amor é troca!

Eu não gosto de filmes de aventura, mas porque não acompanhá-lo só para vê-lo feliz? Eu não suporto teatro, mas porque não assistir juntinho com o amado a última peça em cartaz que tanto ele quer ver? Afinal, há quanto tempo você vem dando tudo de si, e em troca não recebendo nada, só por medo de perdê-lo?

Ele não reconhece que você faz "das tripas coração" só para agradá-lo? Claro, ele até reconhece que você é uma dona de casa excepcional e uma mãe maravilhosa. Quando ele chega em casa está tudo organizado, as crianças lindas e bem tratadas, o jantar que ele adora prontinho, e tantas outras coisas perfeitas. Você se julga insubstituível? Mesmo?

Claro que não! Você faz o que uma ótima babá ou secretária faria tão bem quanto você! Nada contra as donas de casa, muito ao contrário! Mas, eu pergunto: quanto você deixou de viver a sua vida, só para agradar um marido e ser reconhecida por isso? Você está feliz assim???

Queremos, porque queremos ser maravilhosas, indispensáveis, reconhecidas, aplaudidas, valorizadas e .....lindérrimas!!! Muitas vezes, até fazemos de modo inconsciente, mas chantageamos! Uma chantagem que deixa subentendido para o outro: Olha lá, hein? Veja como eu estou me sacrificando por você!

Se você está com raiva, magoada, chateada, porque alguém não reconhece o seu grande valor, é porque deu pensando em alguma recompensa. "O que você dá aos outros, dá a si próprio". Ou seja, se você gostou ou se sentiu bem pelo que fez por alguém, a reação dela deveria ter pouca ou importância alguma para você.

AH! Fez tanto pelo marido "tadinha" e agora ele a abandonou... que ingrato!! É isso aí! Fez tanto por ele para agradar e abandonou-se!

Quer mais? Talvez foi aí que deixou de ser "interessante" aos olhos dele. Uma fórmula para tornar-se desinteressante aos olhos de um homem: Viva a vida dele, sonhe os sonhos dele, seja a mãezona dos filhos dele... Quando renunciamos à própria vida, em nome de outrem, perdemos o senso de dignidade e acabamos perdendo nossa identidade. Tornamo-nos previsíveis demais! Não é de espantar que ele começará a ter "olhos" para as outras!

A desculpa da "rainha do lar" faz com que queiramos cuidar e proteger, quando não sabemos, ao menos, o que é cuidar de nós mesmas!

Devemos administrar antes de acusar o modo como estamos sendo tratadas às nossas próprias carências afetivas. Considere-se! Agrade-se! Quem sabe assim, não poderá voltar a ser aquela mulher interessante e verdadeira que despertou outrora o olhar de admiração de um homem?

Não desista, sua luz pode estar meio apagada, mas ainda EXISTE!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O Universo inteiro estava ali... por SGiudice

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Jorge Luis Borges descreve em sua obra "O Aleph"- "O diametro do Aleph
era de dois ou tres centrímetros, mas o Universo inteiro estava ali,
sem diminuição de tamanho. Cada coisa...era infinita porque eu
a via claramente de todos os ângulos do Universo"

O que acontece com as pessoas quando elas se encontram e à primeira
vista sentem como se uma série de coisas ocorreram entre elas no
passado?
Esses encontros acontecem para nos colocar no devido lugar algo
que no passado ficara interrompido.
Isso não quer dizer que todo encontro esteja relacionado ao amor
romântico.
Pode ser amantes que se encontram depois de muitos séculos e tiveram
vidas fortemente compartilhadas, mas também encontros de outra
missão qualquer que não seja romântica.

Voce está andando em uma rua e sente como se não entendesse nada,
mas tivesse a certeza de tudo...
Voce pode sentir uma vontade de chorar, não de tristeza, mas porque
sente a emoção de que aquele exato ponto é mágico e de que
estamos no lugar certo!
O relógio pára..
Interpretamos símbolos e um contato muito além do físico fica
estabelecido. Nada se perdeu nas areias do tempo.

Quantos encontros significativos assim temos em nossa vida?
Atravessamos um portal e cruzamos um mundo invisível mas
repleto de entendimento. Passado é presente! Imagens fugidias
desfilam em nossa mente.
Somos escritores, magos, feiticeiras, ciganos, monges, soldados,
inquisidores, delatores...
Castigamos, torturamos, vingamos, matamos, mas também
sentimos a dor do julgamento severo de um inocente, as
chibatadas que ardem na alma de um injustiçado, a
incompreensão de uma sincera intenção.
O coração dispara e temos a sensação de que coisas
importantíssimas estão aparecendo diante de nossos olhos.
Estamos nesse mundo?
Uma fração de tempo, um transe apenas, mas que desfilam infinitas
viagens...

Pessoas com quem tivemos problemas no passado aparecem
de novo em nossas vidas, naquilo que os místicos chamam
a " Roda do Tempo". A cada encarnação aumentamos nosso
estado de consciência e conflitos vão sendo solucionados.
Reencontros são passaportes para a nossa evolução. O
Universo se contrái. Uma Força Maior se expande.
Os alquimistas tinham como moto principal
"Solve et coagula"- Dissolve e concentra.
Enfrentamentos na verdade podem acender uma luz... 
Assuntos relevantes podem ser resolvidos por aqueles
que conseguem enxergar o que está além destes encontros
físicos. Ou não! Ficam para serem resolvidos mais tarde.
Duas pessoas podem se encontrar apenas uma vez e se despedir
para sempre porque não passaram pelo "ponto físico" que faz a
energia jorrar fartamente aquilo que as uniu nesse mundo.
Se afastam sem entender direito o que as aproximou.

Certo é que todos nós em algum momento e lugar tivemos este
"sentimento forte e familiar" que tão sabiamente
exprime Oscar Wilde...
"Eu não consigo ver e voce conhece tudo
Mesmo assim, minha visão não será inútil..
Porque sei que nos encontraremos de novo...
Em alguma divina eternidade..."